Saci-Pererê, Cuca e Mula Sem Cabeça ficaram marcados na obra de Monteiro Lobato. Trazendo uma nova visão sobre esses e outros personagens, o game Guerreiros Folclóricos pretende colocar as lendas brasileiras nos principais consoles do mundo. Indicada como um dos melhores jogos nacionais da Brasil Game Show 2015, a produção do estúdio Unique Entretenimento Digital pretende popularizar a cultura do Brasil, assim como as famosas séries God of War e The Witcher fizeram, respectivamente, pelas mitologias da Grécia e Polônia.
Em entrevista ao Boletim Nerd, os sócios da Unique, Joe Santos, Rodolfo Fernandez e Bruno Amorim, falaram sobre a criação do game e possibilidades para o futuro do título. Idealizado há 10 anos, o projeto começou a tomar forma no primeiro semestre de 2015, devido à fusão da Unique In Class, de Santos e Fernandez, e a In9vare, de Amorim. Inspirado por Kratos, Joe, o diretor de arte, “sentia falta dessa abordagem cultural”.
Na trama, as criaturas do reino Akakor (suposta cidade perdida na região da Amazônia), têm acesso livre a Terra, seja para proteger a natureza ou para aterrorizar suas vítimas. Contudo, junto a alguns seres malignos, o Saci tenta dominar o planeta, por acreditar que “a raça humana não era digna de tal dádiva”, mas acaba banido para o mundo das lendas, onde se torna rei e, após 300 anos, recruta generais para uma segunda investida.
Para salvar a humanidade, o valente Kambaí é enviado a Akakor para derrotar os vilões. Ligado aos mitos brasileiros desde garoto, Joe Santos apresenta assim seu protagonista: “O Kambaí é baseado na história do Saci Verdadeiro, tem um colar, chamado Baêta, que lhe dá poderes sobrenaturais [como superforça e rapidez]”. O livro O Saci Verdadeiro, de Olívio Jekupé, retrata o Kambaí (“Iaci Pererê”, em tupi) como um índio de duas pernas, alterado até ser mesclado a lenda africana do Ossaim – a figura negra e de uma perna só.
Com exclusividade, o público da Brasil Game Show 2015 pôde testar uma versão pré-alfa, graças aos esforços de uma equipe de 13 pessoas, trabalhando em full-time por 3 meses. No material, o Kambaí era o único guerreiro em ação, porém, a expectativa é de que 4 personagens sejam jogáveis. “Devemos ter o Lobo-Guará, a sereia Iara e o Caiopora”, disse Joe Santos, autodidata responsável pela reinterpretação dos seres lendários.
Sem data para chegar ao mercado, o game já chamou a atenção de marcas estrangeiras. “Teve um contato da Sega, eles gostaram do projeto. Mas foi apenas a primeira conversa”, revelou Joe. Pensando em transformar Guerreiros Folclóricos numa franquia, a Unique encomendou um livro contando o roteiro do jogo, em produção pelo autor Lucas Mogg. “A obra está no capítulo 16 atualmente”, anunciou Rodolfo. Além disso, existe a chance de disponibilizar o título para os aparelhos móveis, em uma plataforma de luta.
Outro atrativo previsto é a exibição de animações no decorrer de Guerreiros Folclóricos. “Através de cinematics, vamos informar os gamers sobre os pontos fortes e fracos de cada criatura do folclore”, afirmou Bruno Amorim, diretor de negócios do estúdio baiano. Finalizando sua palestra na área indie da BGS 2015, Rodolfo Fernandez declarou: “Queremos resgatar as lendas da nossa infância”.