Engana-se quem acredita que os personagens mais excêntricos e controversos estão na ficção, uma vez que a própria sociedade dá origem a pessoas tão diferentes quanto é possível. Imagine juntar aqueles parentes estranhos, colegas esnobes e outras figuras “exóticas”, promover sua interação e ver no que dá. É isso que faz o Festim das 12 Cadeiras, livro que, em 164 páginas, tece uma irreverente crítica social, repleta de citações culturais e segue o ritmo de um filme.
Escrita por Elvis delBagno, cineasta de formação, a obra conta a história de Laerte e Carlão, casal homossexual e milionário, cujo hobby é reunir um seleto grupo de convidados em um jantar anual, visando demonstrar sua riqueza e, assim, impressionar cada um dos visitantes. Para o encontro atual, Laerte decidiu comprar um conjunto de doze cadeiras russas, porém, quando as recebe em sua mansão, ele descobre que um dos móveis guarda um tesouro avaliado em 100 mil reais, valor que pouco interessa para a dupla.
Para tornar o evento mais interessante, Laerte propõe manter a “pequena fortuna” escondida no forro da cadeira e entregá-la ao indivíduo que usar o assento primeiro. Recusando a hipótese de deixar o acaso decidir qual será o premiado, o protagonista elabora uma estratégia para que o mais humilde sente-se no banco. Entretanto, no decorrer da noite, uma das pessoas esperadas telefona avisando que poderia não comparecer ao Laerte’s Dinner, proporcionando muitas situações cômicas para que tudo prossiga como os anfitriões desejam.
De leitura fluida, a publicação da Editora Schoba debate o comportamento da sociedade, ridicularizando convenções sociais, preconceitos de cunho religioso e de orientação sexual e as demais hipocrisias do dia a dia. Para colocar em prática tal proposta, delBagno recorre ao humor ácido e, por vezes, demonstra ousadia para apostar em piadas escrachadas. Desta maneira, embora faça paródia a Festim Diabólico, de Alfred Hitchcock, e ao conto russo 12 Cadeiras, de Ilya Ilf e Yevgeni Petrov, o livro consegue ter sua própria identidade.
Brincando com diversas formas de narrativa, Elvis delBagno manipula como quer os seus personagens (cada um deles representando um estereótipo diferente), fazendo com que entrem e saiam de cena sem perder a atenção dos leitores. Contudo, a princípio, a autor pode assustar o público moralista (talvez seja esse seu objetivo!) ao usar palavrões e trechos de apelo sexual, mas, ao mesmo tempo, a linguagem escolhida é o que torna a trama singular e envolvente.
Diretor de Um conto de Batman: Na Psicose do Ventríloquo, Elvis delBagno não foge às origens e ainda insere referências nerds (citando Star Wars, Senhor dos Anéis, Lost, Avatar, Game of Thrones etc.) em Festim das 12 Cadeiras.
Com influência hitchcockiana até o final, Festim das 12 Cadeiras surpreende, provoca e diverte.
Título: Festim das 12 Cadeiras
Autor: Elvis DelBagno
Editora: Schoba
Páginas: 164
Gênero: Comédia, Suspense