Uma história em que um casal se muda para uma casa velha e abandonada, sendo surpreendido por assombrações daqueles que ali – um dia – morreram não é novidade pra ninguém. Mas e se, junto disso tudo, fossem adicionados personagens cativantes, uma trama bem elaborada e bastante divertida?
Em Fervo, filme do Star+, acompanhamos a história do casal Leo (Felipe Abib) e Marina (Georgiana Góes), um casal de arquitetos que se muda para um casarão que, um dia, quase se tornou uma boate LGBT. Decididos a reformar o local para torná-lo um lar, não contavam com a assombração dos três antigos donos do estabelecimento, que morreram antes da inauguração.
A partir deste ponto, o casal se envolve em uma série de desafios que, além de colocar seu casamento em jogo, os fazem desafiar a própria Morte. Com muito bom humor, “Fervo” sabe equilibrar com maestria os gêneros da comédia e do drama, entregando um produto final não só divertido de se assistir, mas também emocionante.
A relação do casal protagonista até deixa a desejar em alguns momentos, mas felizmente não são eles a atração principal do “Fervo” – e fica claro que o diretor Felipe Joffily sabia muito bem disso. Quem dá vida – ironicamente – ao filme são os três fantasmas que assombram ao casarão: Mo Nanji, a drag queen atração principal; Lara, a gerente; e Diego, o técnico da boate, respectivamente interpretados por Rita Von Hunty, Renata Gaspar e Gabriel Godoy.
Dentre eles, cada um tem a própria história que explica o porquê continuam presos a este plano, assuntos mal resolvidos em vida. Com problemas tão mundanos e relacionáveis, os três personagens despertam a empatia do público e fazem, facilmente, com que nos preocupemos com suas histórias e torçamos para que suas pendências sejam resolvidas, o que possibilitaria o tão sonhado descanso.
Já com relação aos personagens de apoio, Dudu Azevedo e Paulo Vieira também entregam um ótimo trabalho como Jorge e Paulo, respectivamente, o amigo atrapalhado de Leo e um influencer médium que ajudam o casal e os fantasmas em sua missão. Mesmo sendo responsáveis por poucos momentos dramáticos, agregam bastante à comicidade do longa, sendo responsáveis por alguns dos momentos mais engraçados da obra.
Além disso, vale ressaltar que o título aborda assuntos bastante importantes com leveza e respeito – talvez com um deslize ou outro, mas provando que não é preciso ofender para ser engraçado –, trazendo consigo uma gama de positivas boas intenções. Mesmo falando tanto sobre a morte, um dos principais acertos da obra é focar nas nuances da vida.
Glamuroso, bem-humorado e comovente, “Fervo” pode até ser baseado em um filme francês (Poltergay, 2006), mas sabe ser criativo por si só e construir sua identidade própria. Mistura uma edição estimulante, personagens cativantes e, por fim, uma boa dose de emoção para fazer um drink fascinante que merece, e muito, ser consumido entre festa, fervor e lágrimas.