Curta Kinoforum 2023 celebra representatividade em SP

Laisa Lima

Dos dias 24 de agosto a 3 de setembro, acontece o 34° Curta Kinoforum – Festival Internacional de Curtas de Sâo Paulo, bem no coração da cidade paulistana. Com 301 filmes vindos de 53 países, o evento se divide entre a Cinemateca Brasileira, o CineSesc, Museu da Imagem e Som, Espaço Itaú de Cinema e Centro Cultural São Paulo, englobando 44 salas ao todo. 

A fim de prestigiar suas trajetórias, dois artistas falecidos recentemente, Jean-Luc Godard (1930-2022), grande representante do cinema francês, e José Celso Martinez Corrêa (1937-2023), cineasta e dramaturgo brasileiro, terão sessões especiais. A obra póstuma de Godard, Trailer do Filme que Nunca Existirá: Guerras de Mentira (2023), e O Parto (1975), dirigido por Zé Celso ao lado de Celso Luccas, serão exibidas em sequência ao ar livre na Cinemateca. 

Jean-Luc Godard, “Trailer do Filme que Nunca Existirá: ‘Guerras de Mentira” (2023)

Além disso, a atriz Gilda Nomacce será homenageada e o artista argentino Juan Pablo Zaramella possuirá a própria respectiva, exaltando sua história como um dos mais influentes animadores da América Latina, desenvolvedor do curta-metragem mais premiado do cinema, Luminaris (2011). O diretor também estará em um bate-papo aberto ao público no dia 26 de agosto, no CineSesc.

Pré-estreias de produções desenvolvidas por Beto Brant e Thais Fujinaga se juntarão igualmente a curtas-metragens dirigidos por nomes influentes, tais quais Anna Muylaerte – com seu recente O Nosso Pai (2023) -, Tata Amaral, Eliane Caffé, Toni Venturi, e por aí vai. A presença de atores renomados inseridos nestes filmes também chama a atenção, possuindo figuras como Zezé Motta, Elias Andreato, Edson Celulari, Carla Camuratti, Ney Latorraca, Rosi Campos, José Rubens Chachá, Sandra Annenberg, Jonas Bloch e Marco Ricca e Grace Passô. Os espectadores terão a oportunidade de assistir filmes que foram premiados e selecionados para festivais internacionais (Infantaria, de Laís Santos Araújo; Todas as Festas de Amanhã, de Dalei Zhang; A Ferida Luminosa, de Christian Avilés etc.).

Oficinas e encontros ligados à tecnologia irão proporcionar momentos de reunião entre a modernidade e o audiovisual. Mostras sobre inteligência artificial, games e até envolvendo vídeos de Reels e TikTok estarão na cartilha de atividades ofertadas, ao passo que a inclusão de debates e seminários acerca do contexto cinematográfico atual irão ter um destaque. Produções advindas de cineastas acadêmicos estarão no projeto Cinema em Curso e CIBA/CILECT – O Cinema das Escolas Latino-Americanas.

Seções clássicas como o Nocturnu – Cine Fantástico e de Horror, que prestigia obras deste gênero, o Prêmio Estímulo e as escolhas cinematográficas da Associação Brasileira de Críticos de Cinema (Abraccine) continuarão presentes.

Juventude e ativismo

A Mostra Horizontes valoriza a participação de jovens em 13 curtas-metragens nacionais e internacionais escolhidos, exaltando a mesclagem de culturas e sociedades. O colombiano convocado para o Festival de Curtas-Metragens de Oberhausen (Alemanha) A Menos Que Bailemos, de Fernanda Pineda e Hanz Rippe Gabriel, e Fantasmas, dirigido por Spike Jonze, estarão inclusos na Mostra.

Ademais, o ativismo marca presença no evento, levando consigo questões como a Guerra da Ucrânia, relatada em três títulos na Mostra Internacional; segurança e abuso de poder, em pauta no filme Ao Vivo, da polonesa; feminismo, por E Se as Mulheres Mandassem no Mundo? (Itália/EUA), de Giulia Magno; heroísmo dos combatentes na Guerra Civil Espanhola, por Patanegra, dirigido por Méryl Fortunat-Rossi; na alçada brasileira, tópicos em volta da terra são abordados, a exemplo de Pedro e Inácio”, de Caio Dorneles; dentre outros temas pertinentes.

Na Mostra Limite, criada para filmes de linguagem inovadora, o meio ambiente é utilizado como principal ponto de indagação. A socioambientalidade volta-se para o enfoque com pautas condizentes a destruição ambiental, poluição, descuido com o planeta, globalização e incêndios florestais, assim como é demonstrado em obras conscientizadoras e reflexivas, por exemplo: “Nostalgia para o Lago”, do paraguaio Arturo Maciel”, “Estranhos no Escuro”, de Jenni Pystynen e Perttu Inkilä, e “O Itinerário de Cicatrizes”, de Glória Albues.

Indígenas em foco

O 34° Curta Kinoforum optou por, nesse ano, exaltar as feituras indígenas, selecionando obras que conversem sobre a realidade de tribos, sendo contadas por quem vivencia suas dificuldades, empecilhos e tradições no dia a dia. Para isso, Olinda Tupinambá, Priscila Tapajowara e Takumã Kuikuro estarão em foco, trazendo suas produções e ganhando uma retrospectiva da filmografia de cada um. A série de curtas-metragens Ãgawaraitá, de Priscila Tapajowara, é um exemplo de histórias que expõem a realidade dos indígenas e ribeirinhos da Amazônia, associando-os com o respeito pela floresta juntamente com a crença nos encantados, seres místicos que vivem na mata. 

Alberto Alvares, Takumã Kuikuro, cineastas Yanomami e outros artistas oriundos de tribos nativas compõem o painel, que engrandecem as narrativas de solo indígena e as apresentam para o grande público.

Olinda Muniz Silva Wanderley | Pulitzer Center
Olinda Muniz Tupinambá

Diversidade

As minorias e os indivíduos vítimas de preconceito também serão retratados na Mostra, lhe atribuindo uma função de exteriorizar o cotidiano destes em forma de arte. Para a comunidade LGBTQIAP+, a representação vem em formato de um amor secreto envolvendo uma nadadora e sua treinadora (Apneia, de Natalia Bermúdez); uma trans imigrante em Paris (O Esboço, de Tomas Cali); uma transsexual negra que reencontra sua família (Ave Maria, de Pê Moreira) etc.  Outros títulos interpelam por esta causa abordando os mais variados assuntos.

Para falar de negritude sem dissociá-la do racismo, produções do Distrito Federal, Rio de Janeiro e São Paulo estão neste hall. Fique na Luz, de David Alves, possui como enredo três irmãos sonhadores que vivem na periferia, enquanto o carioca Último Domingo, de Renan Barbosa Brandão e Joana Claude, inspirado no Evangelho Segundo Jesus Cristo, de José Saramago, é protagonizado por atores negros, e por aí vai. 

"Fique na Luz", de David Alves
“Fique na Luz”, de David Alves

A inclusão, uma forte essência do Kinoforum, alcança seu ápice em 2023, dado que uma boa parte das produções são realizadas com ou por artistas portadores de alguma deficiência. 4 curtas-metragens brasileiros estão sob responsabilidade de cineastas PCD, levando em consideração também obras estrangeiras que detém este quesito. Suas narrativas abrangem o descaso para com essa parte da população, paralisia cerebral, surdez, cegueira e a possibilidade de se encaixar no mais próximo da normalidade.

O festival também privilegia crianças e adolescentes na Mostra Infantojuvenil, sendo 2 programas infantis e 1 juvenil, abrangendo 14 produções das mais distintas origens destinadas a uma audiência mais jovem.

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