Esqueça o que você sabe sobre séries de super-heróis, pois, Legion segue por um caminho totalmente novo e diferente. Com apenas 8 episódios em sua primeira temporada, a produção resultado da parceria entre a Marvel e o canal FX consegue mostrar que as atrações inspiradas em histórias em quadrinhos podem ser muito mais do que o apresentado até agora. Adotando estética cinematográfica e tons psicodélicos, o surpreendente programa não só explora as riquezas da mitologia de X-Men como também coloca em debate as doenças mentais.
Baseado na obra de Chris Claremont (The Uncanny X-Men) e Bill Sienkiewicz (Elektra: Assassina), Legion acompanha a jornada de David Haller (Dan Stevens, de A Bela e a Fera), um jovem diagnosticado como esquizofrênico, que passou os últimos 6 anos de sua vida internado no Hospital Psiquiátrico Clockworks. Atormentado por visões do que chama de Demônio de Olhos Amarelos, o protagonista não sabe que é, na verdade, um dos mutantes mais poderosos do planeta até conhecer a bela Syd Barrett (Rachel Keller, de Fargo), por quem se apaixona.
No entanto, para desenvolver suas habilidades e o romance com Syd, David Haller precisa encarar a Divisão 3, encabeçada pelo humano vingativo Clark (Hamish Linklater, de The New Adventures of Old Christine) e pelo mutante sinistrão chamado “The Eye” (Mackenzie Gray, O Homem de Aço). Mas isso só é possível com a ajuda da Dra. Melanie Bird (Jean Smart, de 24 Horas) e do time de especialistas, Ptonomy Wallace (Jeremie Harris, de Caçada Mortal), Kerry (Amber Midthunder, de A Qualquer Custo) e Cary Loudermilk (Bill Irwin, de Interestelar), no refúgio de Summerland (algo como o Instituto Xavier para Jovens Superdotados).
Até aqui, você conheceu a parte simples do seriado do FX. Muito mais do que retratar o confronto entre heróis e vilões, ou a guerra entre as raças Homo sapiens (a humanidade) e Homo superior (e os mutantes) – como vistos nos gibis –, a atração propõe ao telespectador uma verdadeira e imprevisível viagem através da mente humana e suas emoções. Idealizado por Noah Hawley (Fargo), o título introduz Haller como alguém atribulado pelo subconsciente fragmentado, que lida com mais agitações em seu cérebro do que no mundo exterior, sem limita-lo como mocinho ou bandido.
Graças à ousadia de seus produtores e inventividade dos diretores e roteiristas, Legion aposta sempre em narrativas elaboradas e multifacetadas, nas quais nem sempre é fácil saber se os eventos exibidos realmente estão acontecendo ou se não passam de projeções na cabeça de David Haller, vulgo Legião. Tal experiência mostra como é difícil a existência de pessoas que sofrem de doenças mentais e, além disso, põe em pauta uma questão filosófica: o que é real? Com isso, fica a mensagem de que o que ocorre na mente pode ser tão real quanto o que se passa fora dela.
Focado em um personagem pouco popular, o programa não é exatamente fiel aos quadrinhos dos mutantes da Marvel, porém, com seu visual alternativo e inspirado nos anos 1970 e 1980, consegue exprimir a essência de X-Men e, assim, tornar o seriado identificável. Deste modo, embora o Professor X, o pai biológico de David, não apareça (há uma cena no oitavo capítulo com uma cadeira de rodas com um “X”), a obra demonstra semelhanças com A Saga da Ilha Muir, trazendo o Rei das Sombras como grande antagonista e uma batalha no Plano Astral.
Fazendo de sua trilha sonora (com She’s A Rainbow, dos Rolling Stones, Happy Jack, do The Who, e Astronomy Domine, do Pink Floyd, e Children of the Revolution, do T-Rex) um espetáculo à parte, Legion é um entretenimento de alto nível e pode ser apontada como a evolução das séries baseadas em HQs – tanto que foi renovada para a 2ª temporada.