Akira: Com quase 40 anos, mangá segue atual e imperdível

Carlos Bazela

É quase impossível passar batido por Akira. Qualquer afinidade pela cultura pop acaba te jogando nos animes como uma bola de pinball e, seja você ou não fã do gênero de ficção científica, a obra de Katsushiro Otomo vai encontrar um meio de despertar a sua curiosidade. Afinal, o longa de 1988 é uma das animações japonesas mais aclamadas de todos os tempos.

Mas e o mangá? Publicado originalmente no Japão seis anos antes de ganhar as telonas, a história, escrita também por Otomo, é considerada um marco no gênero cyberpunk. E, graças à JBC, pode ser lida no Brasil, dividida em seis grandes volumes, que dão o devido tratamento que ela merece. E sem deixar uma página do original de fora.

Akira tem marcado gerações com uma aventura que se mostrou premonitória.

Assim como no desenho, temos as gangues de motoqueiros com suas máquinas futuristas, que cortam as avenidas de Neo Tóquio em busca de confusão. Aliás, a nova Tóquio é uma cidade reerguida das cinzas de uma grande explosão que desencadeou a Terceira Guerra Mundial. Passado o conflito, a cidade está prestes a sediar os Jogos Olímpicos de 2020 e tem no estádio, cuja construção está em fase final, seu maior orgulho.

É nesse universo que encontramos, no centro dos problemas, o grupo formado por Tetsuo, Kai e Yamagata, liderado por Kaneda. Todos alunos de uma escola técnica profissionalizante que está mais para um reformatório. Audacioso e amoral, o bando se complica com uma situação maior quando Tetsuo se envolve em um acidente com uma estranha criança com feições de idoso, portadora de estranhos poderes, e acaba capturado pelos militares que a perseguiam.

Outros caminhos

Após o acidente, Tetsuo passa manifestar os poderes psíquicos da criança que quase atropelou e foge do laboratório. Em fuga e enlouquecido, o rapaz passa a pensar apenas em encontrar aquele que é o único capaz de rivalizar com ele em termos de poder. O que foi banido dos laboratórios e que foi o estopim da última guerra: o ser chamado Akira.

Com mais espaço do que os 124 minutos de duração do anime, o autor se aprofunda nas dinâmicas entre personagens do grupo de Kaneda e dá ao leitor a chance de conhecer melhor Kei, a misteriosa garota que o líder da gangue encontra na noite do acidente de Tetsuo. Ela pertence a uma célula revolucionária, cujo objetivo é desmascarar experimentos do Exército que resultam justamente em crianças superpoderosas como a do acidente com Tetsuo.

Falar mais sobre a trama daqui em diante, que é onde a história começa a seguir rumos distintos da tela, é tirar a sua oportunidade de aproveitar e se surpreender com cada página de uma obra que conseguiu ser singular em duas mídias, principalmente pelas diferenças marcantes entre ambas.

Quarentão e atual

Terminar de ler Akira em 2020, durante uma crise global como a pandemia do novo coronavírus e quando as Olimpíadas de Tóquio deveriam acontecer é emblemático. No mangá, vemos pessoas levadas ao extremo por uma catástrofe além da compreensão humana. Um cenário tão desolador que torna alguns atos que acontecem na história compreensíveis, ainda que imperdoáveis.

Mas, levanta questões mais importantes sobre o quanto aquela sociedade já estava perdida antes mesmo de tudo ruir. Com as instabilidades do governo japonês, que assistia a um golpe militar iminente e jovens desesperados em busca de drogas, adrenalina e qualquer outra coisa que tirasse seu foco de uma realidade sem futuro.

Vale lembrar que no início do ano lidávamos com a ameaça de uma nova guerra.

Akira é, acima de tudo, uma história sobre ganância. Uma epopeia de ficção científica que escolhe maneiras irreais para retratar o desejo concreto do ser humano por poder e por subjugar outros ao seu redor. Seja com dons sobrenaturais ou manobras políticas, como mostra a frota naval estado-unidense que cerca o Japão nos volumes finais. E sobre a ânsia que muitos têm de personificar em um semelhante a habilidade divina de salvação para uma dificuldade extrema.

E, ainda que use a paranormalidade como linha narrativa para falar sobre política e messianismo, o mangá de Katsushiro Otomo também é uma fábula sobre esperança. Sobre a habilidade que transforma desajustados em heróis quando o assunto é proteger seus entes queridos e sobre a capacidade de recomeçar mesmo em meio ao caos completo. Algo que os japoneses sabem muito bem como retratar.

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