Arca de Noé: pautas adultas pesam e animação naufraga

Julia Bomfim
Arca de Noé
Foto: Imagem Filmes

A animação Arca de Noé está nos cinemas e traz uma proposta ousada. Inspirado nos poemas infantis de Vinicius de Moraes, o filme dirigido por Sérgio Machado e Alois Di Leo mistura temas religiosos, musicais e sociais. Com um elenco de grandes nomes e um investimento robusto, a produção parece querer se destacar no cenário do cinema nacional, através de uma reflexão que ultrapassa o universo infantil.

No entanto, essa abordagem tem gerado controvérsia. Enquanto o filme conta a história dos ratinhos artistas Vini e Tom – uma homenagem a Vinicius e Tom Jobim – e sua convivência dentro da arca durante o dilúvio, o enredo vai além da mera aventura bíblica. O que poderia ser um conto simples de convivência e união se transforma em uma trama cheia de nuances políticas e sociais.

De um lado, temos o leão Baruk (Lázaro Ramos), uma figura que se torna autoritária e impõe aos outros animais a “lei do mais forte”, sugerindo uma crítica velada aos abusos de poder. Ao mesmo tempo, o filme usa essa dinâmica de poder para questionar temas como a convivência e a tolerância. Tornando-o uma leitura de nosso próprio contexto sociopolítico.

O diretor Sérgio Machado acredita que as crianças podem compreender e se engajar com essas questões. E afirma que a animação foi pensada para tratar temas fundamentais sem subestimar o público infantil. Para ele, a arca é uma metáfora que reflete o planeta. Um espaço limitado onde a aceitação e o cuidado são essenciais para evitar o colapso. Essa proposta coloca Arca de Noé como um filme que não seja apenas entretenimento, mas que propõe reflexões maiores.

Sendo assim, a animação, conta com: Rodrigo Santoro (Rato, Vini), Marcelo Adnet (Rato, Tom), Alice Braga (Rata, Nina), Lázaro Ramos (Leão, Baruk), Seu Jorge (Deus), além de outros grandes nomes para dar vida às personagens.

O público-alvo

Por outro lado, ao inserir temas de diversidade e referências religiosas, o filme dividiu o público. Em algumas sessões na Zona Sul de São Paulo, pais e filhos deixaram a sala ainda no início, incomodados com as menções a religiões diversas e questões LGBTQIAPN+ das personagens. Essa reação revela um público que talvez não esperasse uma releitura tão politizada e diversa de um conto bíblico. Especialmente, em um filme direcionado ao público infantil.

Apesar do mérito de ser a primeira animação brasileira a estrear em mil salas, Arca de Noé enfrenta desafios em cativar um público que ainda parece relutante em sair de sua zona de conforto. Ao tocar em temas delicados e ao desafiar expectativas, o longa sugere um espelho que reflete, de forma inusitada, a realidade brasileira. Mas, talvez, nem todos estejam dispostos a olhar para essa imagem. A Arca de Noé se destaca como uma tentativa de inovar e provocar reflexões, mas seu alcance junto ao público ainda é uma incógnita.

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