Suicídio é a causa da morte de 800 mil pessoas no mundo anualmente, sendo responsável por 1,4% das mortes no planeta inteiro, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), em estudo referente a 2012. A mesma publicação afirma que esta é a segunda maior razão para mortes entre jovens de 15 a 29 anos, com 1 vítima a cada 40 segundos. A American Foundation for Suicide Prevention aponta que para cada suicídio, há 25 tentativas. Então, por que não falamos sobre isso? É o que faz a série 13 Reasons Why, que aborda este tema delicado e as suas complexidades.
Disponível na Netflix desde o dia 31 de março, a atração baseada no livro homônimo (no Brasil, você o encontra como “Os 13 Porquês”), de Jay Asher, dá um passo à frente no diálogo sobre um assunto de extrema importância e presença na sociedade, numa demonstração de coragem e consciência do serviço de streaming e do showrunner Brian Yorkey. Com 13 episódios de aproximadamente 1 hora de duração, a produção investiga os motivos que levaram a jovem Hannah Baker (Katherine Langford, do curta Daughter) a tirar a própria vida, e os efeitos disso na comunidade local.
Na trama, Clay Jensen (Dylan Minnette, de O Homem nas Trevas), um antigo colega de Hannah, recebe um conjunto de 7 fitas cassete deixadas pela garota que acabara de falecer, nas quais ela explica como cada uma das pessoas mais próximas de seu convívio teve influência na decisão que tomou. Ao ouvir as gravações (como outros citados nas fitas), Clay passa a vivenciar cada experiência traumática acumulada por Hannah, muitas vezes sendo contagiado pelas emoções da menina, recriando cada desventura e pensando coisas como “eu poderia ter feito mais para ajudá-la” ou “alguém precisa pagar por isso”.
Como uma lente de aumento sobre o que acontece nas escolas, 13 Reasons Why mostra como as pequenas coisas minam a vontade que alguém tem de viver. Cada com sua contribuição ou falta dela, os colegas de Hannah e seus supostos tutores mostram à adolescente um vê em um ambiente hostil, onde são muitos os que não dão a mínima se estão sendo cruéis, poucos aqueles que se importam com ela e menos ainda os que têm interesse em saber pelo que a protagonista está passando. Na tentativa de se encaixar, Hannah procura amizades e experiências que a levam a caminhos ruins e experiências negativas.
A série original Netflix prega que “a gente nunca realmente acontece na vida alguém”, e que é normal se sentir mal ou deslocado no decorrer da vida, porém, é natural pedir ajuda. Exemplo disso, é que enquanto Hannah é vítima de bullying, isolamento social, assédio moral e violência sexual, personagens como Jessica Davis (Alisha Boe, Teen Wolf), Justin Foley (Brandon Flynn), Alex Standall (Miles Heizer, de Nerve: Um Jogo sem Regras) e também Courtney Crimsen (Michele Selene Ang) sofrem com estupro, alcoolismo, violência doméstica e dificuldades para assumir o homossexualismo, que também são questões perigosas para quem não tem apoio.
Sem o objetivo de fornecer a resposta definitiva para a pergunta “por que alguém comete suicídio?”, a atração indica que muitos podem ser os vilões na jornada de alguém em crise e que qualquer um poderia ser o herói (ou heroína). Deste modo, à medida que o playboy predador Bryce (Justin Prentice, de iZombie) é culpado por atacar Hannah sexualmente, Clay carrega o arrependimento de não ter se declarado para a garota, da mesma forma como o conselheiro Mr. Porter (Derek Luke, de Voltando a Viver) sabe que poderia ter prestado mais atenção nos sinais apresentados pela aluna do Liberty High School.
Um discurso profundo, intenso e poderoso sobre um dos temas mais evitados pela sociedade, o seriado não usa de meias medidas para cumprir a sua missão. Assim sendo, num bravo ato de conscientização, 13 Reasons Why impacta ao exibir cenas de estupro e tem seu ápice na chocante execução do suicídio de Hannah. Além disso, a atração traz à tona tópicos como bullying virtual, machismo, slut-shaming, stalking, uso de drogas, a difícil comunicação entre pais e filhos, o descompromisso que as instituições de ensino têm para transformar seus estudantes em boas pessoas e o despreparo em cuidar dos desamparados.
Estrelada por uma protagonista morta, a produção não sucumbe à morbidez e procura cenários quase sempre coloridos e vibrantes para amenizar o clima. Contudo em sua narrativa cativante e comovente, a obra envolve ao alternar entre os períodos antes e depois do falecimento de Hannah Baker (com a menina narrando os flashbacks) e acerta ao descrever seus personagens como verdadeiros adultos, complexos e multifacetados. Tal iniciativa faz o novo título da Netflix manter um visual adolescente e, ainda assim, chegar a um tom tão pesado quanto o necessário, exigindo bastante de seu jovem e merecidamente elogiável elenco, diretores e roteiristas.
13 Reasons Why não delimita o que faz uma pessoa cometer suicídio, mas deixa a mensagem de que se formos melhores com os outros, mais vidas poderão ser preservadas.
Lembre-se: se você precisa de ajuda, converse com sua família e amigos, procure o auxílio de profissionais ou entre em contato com o Centro de Valorização da Vida (ligue 141 ou 3825-4111). Suicídio não precisa ser uma opção.
https://youtu.be/nHdoAaLiU2E?list=PLalmCWWs26EpqxcEBMwRrMHXh8AhtKkDW
Abaixo, confira a trilha sonora oficial de 13 Reasons Why:
