Os X-Men surgiram nos gibis em 1963, criados por Stan Lee e Jack Kirby. O grupo, focado na diversidade, adotou como causa o combate aos preconceitos e à opressão. Seu líder e mentor, Professor Charles Xavier, se destacou pelo discurso pacifista, pregando pela coexistência entre o Homo sapiens e os mutantes (Homo superior). E, anos após o sucesso do Hulk de Lou Ferrigno e enquanto o Blade de Wesley Snipes estrelava uma trilogia, foi a vez de os X-Men ganharem versão em live-action.
O jovem diretor Bryan Singer recebeu a responsabilidade de dar vida aos heróis em X-Men: O Filme. O cineasta, que possuía Os Suspeitos (1995) como maior portfólio, tinha apenas 34 anos quando o primeiro longa dos mutantes chegou às telonas. Nos sets de filmagem, Singer descartou o uso de quadrinhos e removeu o colorido dos uniformes dos personagens, com a ideia de criar figuras mais realísticas. Isso foi um choque para os fãs, de início, mas o estranhamento acabou sendo superado.
Apresentação orgânica
No roteiro assinado por Tom DeSanto e David Hayter com Singer, a humanidade começava a se preocupar com o que chamava de “ameaça mutante”. Na prática, o senador Robert Kelly (Bruce Davison) circulava pela Casa Branca fazendo lobby por uma medida de registro de mutantes. Porém, como mostra o prólogo do filme, um dos indivíduos da espécie Homo superior já havia sofrido com outra segregação: Erik Lehnsherr (Ian McKellen), vulgo Magneto, foi separado de sua família décadas atrás, no Holocausto.
Assim, X-Men: O Filme apresentou sua situação nos “dias atuais” (os anos 2000), bem como o cenário passado que iria desencadear a reação – ou seja, o conflito visto na história.
Enquanto isso, conhecemos Anna Marie (Anna Paquin), a Vampira, jovem que sente na pele os transtornos e a perseguição que sua mutação pode trazer. Ela absorve a energia vital de humanos e os poderes dos mutantes, por alguns momentos, através do toque. Em sua fuga, ela encontra ninguém menos que Logan (Hugh Jackman), o Wolverine. O Carcaju, no momento, ainda não conhecia os X-Men, mas nutre rivalidade com Dentes-de-sabre (Tyler Mane).
Não é uma história de origem
Embora tenha se tornado praxe nos títulos que o seguiram, X-Men: O Filme passa longe de ser uma história de origem. É verdade que Vampira está se descobrindo, e Wolverine lida com uma perda de memória, mas este não é o foco. Deste modo, a equipe do Professor X (Patrick Stewart) aparece consolidada. Nela, estão Scott Summers/Ciclope (James Marsden), Jean Grey (Famke Janssen) e Ororo Munroe/Tempestade (Halle Berry), os primeiros alunos do Instituto Xavier para Jovens Superdotados.
Mesmo sem detalhar como cada um chegou à mansão de Xavier, o enredo é didático e explica que Ciclope é o líder do grupo, enquanto sua namorada, Jean, possui poderes telecinéticos além dos limites. Já Tempestade é – quase literalmente – uma força da natureza.
Pelo lado dos vilões, a máxima é a mesma. As raízes de Magneto são ilustradas por um flashback, mas o linguarudo Groxo (Ray Park), a metamorfa Mística (Rebecca Romijn) e Dentes-de-sabre surgem ao seu lado sem argumentação. Juntos, eles formam a chamada Irmandade dos Mutantes.
Carisma e roteiro
Embora peque em não investir em Kitty Pryde e Jubileu – que aparecem, mas sem a devida importância –, X-Men: O Filme tem como pilar o casting certeiro da maioria do elenco. Além disso, o mistério sobre as memórias de Logan, bem como o poder adormecido de Jean Grey abrem caminho para a sequência da saga. E não poderíamos pensar em atores diferentes para boa parte dos papéis, tanto que a franquia teve dificuldades para substituir alguns rostos no reboot.
Entretanto, de imediato, a trama se prova consistente e conecta todos os personagens, colocando Vampira como alvo de Magneto em sua máquina capaz de despertar o Gene X em humanos. Deadpool passaria por um procedimento como este anos à frente, diga-se de passagem.
No fim das contas, o filme foi uma iniciativa corajosa da 20th Century Fox, que ajudou a consolidar a presença de heróis nos cinemas.