Os leitores de HQs têm sido prejudicados pelos vários reboots e pela crise criativa dos quadrinistas que atuam nas editoras mais famosas e produzem para públicos massivos. No entanto, houve uma época em que as páginas dos gibis abriam espaço para o debate de problemas sociais e políticos (apesar das limitações dos “códigos de ética”). Roteirista da Marvel e DC Comics, Steve Englehart viveu neste período e se destacou por trabalhar questões importantes para a sociedade, sem fazer histórias chatas.
Durante um painel realizado na Fest Comix, o escritor narrou algumas de suas experiências, comentou as recentes reformulações nas histórias em quadrinhos e opinou sobre os super-heróis nos cinemas (fazendo uma pequena crítica a Vingadores: Era de Ultron). Ao lado de Heitor Pitombo, da Revista Mundo dos Super-Heróis, que agiu como tradutor, Steve Englehart revelou que possuía liberdade total para criar. “Aqui estão Os Vingadores. Faça o que quiser”, lembrou, sobre o que falaram Stan Lee e Roy Thomas ao lhe entregarem o título, cerca de 10 anos após a estreia do grupo.
Curioso para entender as ações das pessoas, Steve estudou Psicologia e, a partir daí, procurou levar seus conhecimentos aos gibis. “Os personagens evoluíam mês a mês”, disse. Além disso, sem ter qualquer trava editorial, Englehart aproveitou as HQs para destrinchar causas sociais, citando a busca pelos direitos das mulheres e igualdade para os afro-descentes. “Uma vez, disseram que eu só podia escrever sobre homens brancos. Falei que não. Posso contar histórias sobre negros e mulheres”, ele retrucou.
Tendo identificação com o alternativo Doutor Estranho e com o time de Os Defensores e criado Peter Quill (Senhor das Estrelas), Mantis e Nômade, Steve Englehart não se negou a explorar novas áreas, tanto que, na saga Milênio, desenvolveu um herói gay. “Acredito que tenha sido o primeiro homossexual em HQs para o grande público”, estimou. Fugindo de estereótipos, Steve ainda retratou a Valquíria como uma garota que não se entrosava com o sexo masculino.
Fã de quadrinhos desde a infância, nos anos 1950, Englehart não lê gibis atualmente. Entretanto, o roteirista se mantém atento a tudo que envolve as principais editoras. “Não gosto desses reboots, acho desrespeitosos”, declarou, explicando que eles visam a troca de aparência ou uniforme dos personagens. Sem atribuir a culpa aos quadrinistas, Englehart pondera que “hoje há sempre alguém para te dizer o que deve ser feito”.
Sobre o sucesso dos heróis nas telonas, Steve, que trabalhou na adaptação de Batman (1989), de Tim Burton, garante que gosta das produções da Marvel Studios. “Só acho que, em Vingadores: Era de Ultron, muita coisa aconteceu ao mesmo tempo e não houve o crescimento dos personagens”, analisou. De positivo, Englehart comemora a popularização dos quadrinhos. “Antigamente, ninguém conhecia o Homem de Ferro. Agora, todo mundo sabe até quem é o Homem-Formiga”, brincou.