Pecadores: terror é mais do que um filme de vampiros

Pecadores: terror é mais do que um filme de vampiros
Foto: Eli Adé/Warner Bros. Pictures

Criado por artistas negros no século 19, o blues foi chamado de “música do diabo”, refletindo preconceitos raciais e sociais. O gênero consagrou nomes como Howlin’Wolf, T-Bone Walker, Muddy Waters, Willie Dixon, John Lee Hooker, Albert King e B.B. King. Em Pecadores, que estreia nesta quinta-feira (17), o ritmo é usado como ponto de reflexão sobre os dramas de uma pequena comunidade de escravos no Mississipi (EUA) na década de 1930.

Sob a direção de Ryan Coogler, responsável por Creed: Nascido para Lutar (2015) e Pantera Negra (2018), o longa mostra como o blues se torna polêmico até mesmo entre a população afro, que se encontra muito apegada à igreja. Sammie Moore (Miles Caton), o filho do pastor local, tem seu dom natural para a música recriminado pelo próprio pai. Porém, o jovem se incentivado a tocar na inauguração da boate de seus primos, Fumaça e Fuligem (gêmeos interpretados por Michael B. Jordan).

O mal em diversas formas

Fumaça e Fuligem foram soldados, mas acabaram prestando serviços à máfia até aplicarem seu grande golpe, que rendeu os recursos necessários para seu grande empreendimento. Eles querem levar música e bebida à sua comunidade. Para isso, os irmãos se dividem para fazer acordos com comerciantes e artistas, numa espécie de aliciamento de pessoas a partir de pecados como ganância e vício. Sem demonizar comportamentos, o filme traz também personagens que ilustram ego e adultério.

No entanto, a sombra da Ku Klux Klan, gerada pelo ódio e o racismo, é sem dúvida o maior dos males presentes na trama.

Dentes à mostra, sangue derramado

Até aqui, você viu contextos culturais e sociais. E é exatamente assim que o longa escrito por Coogler apresenta suas questões. Mas, afinal, Pecadores promete também ser um filme de vampiros, não é mesmo? Então, assim que o sol se põe, eles dão as caras – mostram suas presas. O pior deles, Remmick (Jack O’Connell), surge de maneira sorrateira, como qualquer bom vilão.

Cercando a casa de shows como um predador, Remmick faz com que o vampirismo se espalhe como uma praga, transformando a boate num matadouro. Aqui, a obra ganha ares de slasher, com muito sangue jorrado enquanto um grupo de sobreviventes tentar aguentar até a próxima luz do dia. Coogler é fiel a toda a mitologia conhecida dos vampiros, incluindo sua vulnerabilidade a alho e estacas de madeira. O sentimento de claustrofobia também se faz presente nesse ato final.

No arco dos monstros, por fim, destaque à atuação dupla de Michael B. Jordan e ao músico Delta Slim vivido por Delroy Lindo. Além disso, Hailee Steinfeld rouba a cena como Mary, que transita por emoções complexas e se faz essencial à trama.

Vale a pena assistir a Pecadores?

O lançamento da Warner Bros. Pictures foge do óbvio como o diabo foge da cruz.

A produção, que se apresenta como terror, traz um registro histórico completo, que vai das plantações de algodão às crenças vindas da África. Os vampiros, que têm todos os traços de vampiros, podem ser entendidos como demônios ou a face de uma opressão branca. Contudo, a visão de que a cultura funciona como fio de ligação ancestral é o maior diferencial do título.

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