Não Olhe para Cima traz diversão e desespero ao mesmo tempo

Carlos Bazela
Não Olhe para Cima traz diversão e desespero ao mesmo tempo

Não Olhe para Cima, produção original da Netflix, que estreou na última sexta-feira (24) no streaming e em cinemas selecionados, traz o seguinte cenário: a humanidade está diante de um evento de extinção. Cientistas, após muitos cálculos e estudo vêm a público para anunciar que estamos próximos de uma catástrofe e medidas precisam ser tomadas o quanto antes a fim de se evitar o pior. Contudo, a estupidez das pessoas no governo e o constante estado de alienação da sociedade tornam a conscientização uma tarefa quase impossível. Te lembrou alguma coisa?

Se a resposta foi “sim”, prepare-se para se divertir – e entrar em desespero – por quase duas horas e meia na trama dirigida por Adam McKay (Vice), que também assina o roteiro, criado em cima da história concebida por David Sirota.

Não Olhe para Cima começa com um dia normal na vida da candidata a PhD Kate Dibiasky (Jenniffer Lawrence, de X-Men: Primeira Classe). O que ela não esperava é que seria a autora de uma grande descoberta: um novo meteoro de quase 10 km, que receberia seu nome.

As comemorações no observatório da Universidade de Michigan, no entanto, duram pouco quando seu superior, o Dr. Randall Mindy (Leonardo DiCaprio, de A Origem) começam a fazer os cálculos e percebem que o corpo celeste está mais perto do que pensava da Terra. A 6 meses de uma colisão direta que causaria a extinção de toda a vida no planeta, para ser mais exato.

Daí em diante, Dibiasky e Mindy, ao lado de seu contato na Nasa, Dr. Teddy Oglethorpe (Rob Morgan, de Stranger Things) passam por toda a sorte de situação esdrúxula – e perfeitamente verossímil – enquanto tentam convencer a Presidente Orlean (Maryl Streep, de Big Little Lies) e seu filho, o chefe de gabinete Jason Orlean (Jonah Hill, de O Lobo de Wall Street), a lançar uma missão defletiva que tire o cometa de sua rota de colisão com nosso planeta.

Politização de tudo

O mais divertido em Não Olhe para Cima também acaba sendo o que mais gera ansiedade no público: a sensação de você apertou o controle da TV e foi, sem querer, parar em um noticiário dos dias de hoje.

Com situações que vão desde uma fabricante de celulares fazendo a cabeça do governo para deixar que o cometa caia e explorar sua composição de metais supercondutores até o povo apoiar isso como uma simples questão de ideologia política.

Passando pela jornada da cientista desacreditada (Dibiasky), que vira meme e ainda precisa lidar não só com um cometa assassino de planetas batizado com o seu nome, como o fato do seu colega receber mais crédito e alçar o posto de celebridade instantânea só pelo buzz das redes sociais. Aliás, há uma série de questões ligadas ao machismo e ao pensamento conservador que o filme aborda ora mais explicitamente, ora menos. 

KKkkrying

A expressão, que pode ser traduzida para “chorindo”, não só define o mundo real nestes dois últimos anos de pandemia do novo coronavírus, como explica perfeitamente Não Olhe para Cima. Se, há 10 anos, por exemplo, o filme seria uma comédia pastelão, rival para os episódios mais absurdos de South Park, a forma como os fatos se sucedem – até as cenas pós-créditos – são, hoje, realistas e geniais ao ponto de tirar lágrimas de quem está assistindo. E não só de rir. 

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