Se nos gibis a amazonas foram criadas para salvar o mundo dos homens da destruição, nas telonas Mulher-Maravilha (Wonder Woman, EUA, 2017) foi o escolhido para evitar uma colapso depois de O Homem de Aço, Batman vs Superman: A Origem da Justiça e Esquadrão Suicida. Cheio de energia, girl power e mensagens inspiradoras, o longa estrelado por Gal Gadot (Velozes e Furiosos 6) e dirigido por Patty Jenkins (Monster: Desejo Assassino) realmente assume e executa a missão atribuída à personagem nos quadrinhos, salvando o Universo Cinematográfico DC Comics de uma crise.
Uma mistura de fantasia e épico de guerra, a produção tem trama situada em 1918, quando o Capitão Steve Trevor (Chris Pine, de Star Trek) despenca com seu avião nas proximidades de Temiscira, uma ilha concebida por Zeus para abrigar as guerreiras amazonas – raça incumbida de inspirar o ser humano e derrotar Ares, o Deus da Guerra. Porém, alheias ao que acontece no “Mundo do Patriarcado” (como as HQs se referem ao “mundo dos homens”), as mulheres da Ilha Paraíso descobrem por meio de Trevor que uma batalha explodirá, num chamado para cumprir com seu destino.
Treinada para ser a melhor entre as lutadoras, Diana (Gadot), a filha da Rainha Hipólita (Connie Nielsen, de Gladiador), não aceita ficar impassível diante da ameaça da guerra ao planeta e decide rumar para a Europa com Steve Trevor, no intuito de encarar o temido Ares – principal influenciador da violência na Terra. Munida de seus poderosos braceletes, escudo, espada “Matadora de Deuses” e do Laço de Héstia (o Laço da Verdade), a Princesa Amazona desembarca numa Londres acinzentada e caótica, onde nada parece ser como deveria.
Em sua jornada até a Bélgica (onde foi tirada a foto que aparece em Batman vs Superman) para duelar com os arautos de Ares, o General Erich Ludendorff (Danny Huston, de X-Men Origens: Wolverine) e a cientista Maru/Doutora Veneno (Elena Anaya, de A Pele que Habito), a moça agora chamada Diana Prince sofre um choque de realidade, que proporciona as cenas mais impactantes da obra e principais lições. Nascida num reino de honra, respeito e compaixão, a heroína se vê diante de homens cruéis e covardes, que assediam, reprimem e menosprezam o sexo feminino.
Remetendo ao estilo de Zack Snyder (300) quando mais de aproxima do Monte Olimpo, a produção trabalha de maneira interessante com os conceitos de verdade e justiça e suas sinuosidades. As figuras secundárias também são construídas com bastante complexidade, pois o espião Sameer (Saïd Taghmaoui, de Touch), o atirador Charlie (Ewen Bremner, de Trainspotting – Sem Limites) e o contrabandista Chefe (Eugene Brave Rock, de Hell on Wheels) demonstram o que há de pior na humanidade (capacidade para assassinato, mentiras etc.) ao mesmo tempo em que são altruístas e leais, além de possuírem seus próprios dramas e sonhos.
Idealizada por William Moulton Marston (sob o pseudônimo de “Charles Moulton”), em 1941, a Wonder Woman estreia em sua primeira aventura solo em live-action mantendo parte da mitologia e estrutura idealizada por George Pérez em 1987, com uma aventura coadjuvada pelo Capitão Steve Trevor e sua secretária Etta Candy (Lucy Davis, de Todo Mundo Quase Morto). O roteiro do filme também assimila os elementos estabelecidos por Os Novos 52, de Brian Azzarello, na qual a origem da Mulher-Maravilha deixa para trás o conto do bebê esculpido em barro e ganha tons divinos.
Protagonizada e produzida por mulheres fortes – como Robin Wright (a Claire Underwood, de House of Cards), que interpreta a general amazona Antíope –, a superprodução milita pelo empoderamento feminino. Um exemplo disso é que Diana não pede ou espera que lhe deem o poder, ela simplesmente pega, assumindo-se como única soberana de sua caminhada. Indomável, Diana se faz ouvir pelos líderes do “mundo civilizado”, zomba da “pequenez” dos homens que governam o destino do planeta escondidos em escritórios, que sacrificam as vidas alheias sem pesar e salta à frente da luta quando os soldados vacilam. Diferente do Batman, que marca seus inimigos com ferro sem hesitar, e de Superman, cuja rixa com Zod culminou na destruição de grande parte de Metrópolis, a Mulher-Maravilha compadece do sofrimento dos inocentes e indefesos e jamais enxerga a morte com naturalidade. Um exemplo de heroína.
Sem cenas pós-créditos, Mulher-Maravilha estreia nos cinemas nesta quinta-feira (01/06).