Mostra SP: O Brutalista arquiteta trama tendenciosa

Brutalista
Foto: A24

O homem por trás da obra

Dentre quase 400 filmes na 48ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, um deles chamou a atenção de todos os cinéfilos: O Brutalista, dirigido por Brady Corbet. Vencedor do prêmio de Melhor Direção no Festival de Veneza, o filme foi o mais disputado da Mostra. E assim que os créditos sobem a tela, fica claro o porquê.

A trama segue o arquiteto judeu László Tóth, que foge da Áustria para os Estados Unidos durante a Segunda Guerra Mundial. Por quase quatro horas de duração, acompanhamos a trajetória do protagonista em busca de novos projetos arquitetônicos para voltar a fazer o que ama.   

O projeto difícil para László, entretanto, é recriar a si mesmo. Acompanhamos o protagonista recomeçando do zero, dessa vez sozinho, sem sua esposa, sem seu trabalho, sem sua pátria. Sem entender totalmente, portanto, quem seria László Tóth nesse novo país.

Brutalista
Foto: Divulgação/A24

A obra por trás do homem

O Brutalista esbanja ambição, tendo a proposta de ser um épico de arquitetura, tanto nas atuações, como em som e fotografia. Músicas grandiosas complementam cenas deslumbrantes, enquanto diálogos impotentes roubam a atenção do que acontece ao redor.

Ao mesmo tempo, Corbet equilibra abordagens a diversos temas diferentes – cada qual com sua importância dentro e fora das telas. Reflete sobre o capitalismo – pobreza e riqueza –, sionismo, exploração do outro, matrimônio, uso de drogas e muitos outros.

O filme sustenta essas discussões de forma simplista, não se aprofundando tanto quanto poderia em nenhuma delas. Algumas, inclusive, se mostram vazias; mas ainda assim, melhor do que outras, que trazem consigo uma ambiguidade constrangedora – como as abordagens ao sionismo, que ignora o contexto no qual está sendo lançado.

A base do filme, entretanto, continua sendo a vida de László Tóth. As transições entre as épocas da vida do protagonista são um grande acerto, de tal forma que cada etapa parece um novo capítulo. E, com eles, mal sentimos o tempo passar – o que é algo surpreendente, visto as quase quatro horas de filme.

Brutalista
Foto: Divulgação/A24

Epílogo: visão final de uma obra arquitetônica

Ainda assim, O Brutalista ainda possui algumas falhas comprometedoras na arquitetura de si mesmo. Se mostra extremamente tendencioso, quase como se olhasse para o público com um ar de superioridade, enquanto clama “olha como eu sou incrível, me adore!”.

Sua duração é grande só por ser, não apresentando justificativa válida para isso, se não a possibilidade de ter um intervalo no meio, tal qual antigamente. Ao mesmo tempo, sua primeira metade é arrastada, e a segunda um tanto corrida, dando a impressão de que foi organizado assim apenas pela beleza de sua estrutura, e não de seu conteúdo, o que é uma grande perda.

O Brutalista, entretanto, não deixa de ser um bom filme, detendo ótimas qualidades – filme de Oscar, como chamam. É um longa evidentemente feito para cativar os espectadores momentaneamente e conquistar grandes prêmios. Muitos irão adorá-lo, enquanto outros não se convencerão por seu caráter tendencioso.

Por fim, há de se questionar se Corbet leva em conta a própria mensagem que propõe: será seu filme uma bela obra brutal? Ou será mais uma construção vazia, meramente comercial, sem vida e sem alma?

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