Personagem famoso dos livros de espionagem de Tom Clancy, Jack Ryan (John Krasinski, de Um Lugar Silencioso) é um analista da CIA que acaba se envolvendo em algo maior do que esperava. Ao mapear uma série de transferências bancárias suspeitas, o agente cai no encalço de um homem que tem tudo para ser o novo Osama bin Laden, a quem se referem simplesmente como Suleiman (Ali Suliman, de Rede de Mentiras).
Cabe a Ryan deixar o trabalho de escritório de lado para ir a campo ao lado de seu chefe, James Greer (Wendell Pierce, de Suits), para descobrir o que pretende o misterioso terrorista e como impedi-lo, em uma caçada que cruza o globo, passando pela Europa e, claro, Oriente Médio. Enquanto isso, o protagonista tenta engatar um romance com a médica Cathy Mueller (Abbie Cornish, do remake de RoboCop).
Nos 8 episódios que compõem a primeira temporada da série exclusiva do serviço de streaming Amazon Prime Video, acompanhamos os erros e acertos do agente em todas as etapas: desde o momento em que tenta provar a existência de Suleiman até a perseguição propriamente dita. Bem divididos, os episódios ainda equilibram doses de adrenalina e tensão entregues para o espectador.
Personagens imperfeitos
Contudo, mesmo com ótimas tomadas de ação, Jack Ryan seria apenas mais uma história norte-americana na qual o vilão é um fundamentalista islâmico se não fosse pela profundidade dada para os personagens. A começar pelo próprio protagonista. Ex-fuzileiro, corajoso e atlético, Ryan é o típico herói bom moço, que tem seus esqueletos no armário, como os detalhes do acidente de helicóptero que quase o deixou paralítico e rendeu horrível cicatriz nas costas.
O homem no comando também apresenta alto grau de complexidade. Primeiro por ser convertido para o islamismo e depois pelos seus interesses pessoais na captura do antagonista. Destituído de seu posto no Oriente Médio, Greer vê em Suleiman o bilhete premiado para voltar a ser bem quisto pelos superiores e está disposto a utilizar os recursos mais questionáveis da CIA para fazer isso acontecer.
Suleiman não é o estereótipo de árabe malvado que se vê no cinema estado-unidense. Abandonado por sua esposa e filhas, o terrorista tem algumas de suas motivações reveladas em flashbacks, que surpreendem quem está assistindo, ainda que não validem seus atos. Mais uma prova de que nada é tão simples em Jack Ryan.
Fiel até demais
Por falar em estratégias polêmicas, é justamente no retrato fiel das organizações secretas e forças armadas dos EUA onde a série acerta mais. Nos episódios, vemos os agentes do Tio Sam corrompendo e fazendo alianças com todo tipo de gente para concretizar seus interesses, desde exploradores sexuais até coiotes que atuam para expatriar refugiados da Síria. Tudo a contragosto de Jack Ryan, diga-se de passagem.
Transtornos pós-traumáticos também são trazidos à tona não só pelo protagonista, como também por Victor Polizzi (John Magaro, de Umbrella Academy), um piloto de drone que questiona seu papel na guerra depois de seus superiores tratarem com trivialidade o fato de o mandarem atirar contra inocentes.
Ao final da primeira temporada, com a conclusão da história principal, a sensação é de que a série entrega outra ótica em cima de um tema já batido pelo cinema nacionalista estadunidense. Revelando que não há lados totalmente certos em uma guerra e que, embora seja figurinha carimbada em conflitos armados, a terra das listras azuis e vermelhas não cuida de seus soldados como deveria.
Jack Ryan já tem mais duas temporadas confirmadas e a segunda está prevista para chegar ao Amazon Prime Video no dia 1º de novembro.