“Besouro Azul” é leve, divertido e simpático

Laisa Lima
“Besouro Azul” apresenta diversão, simpatia e Marquezine

Entre Marvel e DC, quem ganha é o espectador ávido por super-heróis. Sejam os Vingadores ou a Liga da Justiça, o Batman ou o Homem-Aranha, a Mulher-Maravilha ou a Viúva Negra: qualquer personagem que atravesse o mundo dos quadrinhos, é abraçado pelo público – ou por parte dele. Afinal, existem fãs insaciáveis, que pouco se contentam com histórias vindas apenas de HQs famosas.

Levando em conta tramas destrinchadas à exaustão, cabendo isso aos heróis mais populares, a ideia de trazer à luz figuras menos conhecidas parece, então, um bom escape para os grandes estúdios. Se de um lado temos o sucesso dos antes anônimos (pelo menos fora do nicho geek) Gamora, Rocket, Senhor das Estrelas e companhia, agora vemos o despertar cinematográfico de um dos mais arcaicos heróis existentes: o pioneiro Besouro Azul.

Besouro Azul“, dirigido por Angel Manuel Soto, concede o holofote a um sobrehumano criado na década de 30 pela Fox Comics, aparecido no Mystery Men Comics #1, sendo o desbravador da mais tarde farta área dos indivíduos com superpoderes. Aqui, Jaimes Reyes (Xolo Maridueña), um jovem latino de férias na faculdade, é escolhido por um escaravelho que se acopla ao seu corpo, gerando uma armadura capaz de oferecer ao garoto habilidades inimagináveis para um ser humano.

Embora deseje permanecer no anonimato ao lado de sua amada família, Jaime é forçado a ser um super-herói caso queira-os sã e salvos. Contando com a ajuda de Jenny Kord (Bruna Marquezine), a única que compreende a força do objeto, o personagem anseia escapar de um destino associado inevitavelmente ao corpo alienígena e da caçada de Victoria Kord (Susan Sarandon) e Carapax.

Segregação latina

Vivendo em Palmeira City, um bairro majoritariamente de imigrantes vindos da América Latina, Jaime traz consigo a representatividade inerente de um povo à beira da marginalização nos Estados Unidos. De maneira formulaica, adotando visuais de cores quentes, casas abarrotadas de objetos e uma sonoridade focada em trilhas de mariachis, é possível distinguir de imediato qual seria a esfera superior da cidade.

Hightech, com leds em cima das construções e enormes arranha-céus, a segregação é enfatizada sem sutileza, corroborando igualmente com a narrativa, permeada até por questões armamentistas envolvendo o império Kord, capitaneado pela empresária Victoria Kord. Entretanto, dentro deste tópico, nada é tratado com originalidade, escorando-se na premeditação da guerra já genérica entre primeiro e terceiro mundo, validada por um corte e colagem de inúmeros outros filmes com a mesma temática.

Bruna Marquezine & Cia. em: o carisma compensa

Todavia, o que sobressai é o carisma. Ainda que inseridos em um escopo anunciado, nos quais os arquétipos não alçam novas perspectivas, os personagens de “Besouro Azul” fazem render uma boa confortabilidade, projetando especialmente no núcleo familiar de Jaime, a sensação de que seus componentes são nossos velhos conhecidos. Além de reconhecimento, pai, mãe, irmã, tio e avó levam à produção momentos tão tocantes quanto risíveis, cuja anexação às suas personalidades funciona fundamentalmente como porta de entrada na vida dos Reyes.

Logo, o apego é escolhido para tornar-se base dos pilares das mensagens transmitidas, estendendo-se inclusive para o casal Jaime e Jenny. Bruna Marquezine, aliás, cria uma mocinha participativa, independente das ações do super-herói central. Forte e determinada, a jovem anuncia seu nome desconectada de nenhum tipo de fragilidade, sendo mais associada à inteligência do que qualquer outra coisa. O protagonista, por sua vez, reúne o frescor da juventude em uma atuação quase inocente de Maridueña.

Super-herói que não procura salvar o mundo

“Besouro Azul” apresenta diversão, simpatia e Marquezine

O império Kord é designado para dar sustento ao filme, que precisa se recostar em algum peso maligno a fim de incrementar uma narrativa opositora a Jaime, optando por não deixar o medo de perder sua família como único antagonista. Victoria Kord e o Carapax, uma espécie de concorrente do Besouro Azul, equipado também com uma armadura alienígena, são os principais carrascos de Jaime e sua comunidade latina, ainda que sejam as forças motrizes das cenas de ação.

No papel de longa-metragem de super-herói, estes personagens, juntamente com suas fixações, dão a “Besouro Azul” os elementos requeridos para se transformar em tal. Porém, fora eles, a despretensão do enredo cria um ambiente leve, visto que a carga emocional de se salvar o planeta de forças sobrenaturais, por exemplo, não está sobre as costas de Jaime. 

“Besouro Azul” não é nenhuma novidade, nem apresenta-se para ser revolucionário. Na verdade, o ato de divertir já é o suficiente. Escasso em peso e profundidade maior, a recente aposta da DC traz um herói notoriamente jovem, enquadrado em uma idade em que é permitido ser vulnerável, indeciso e dependente. Relacionado a ele, está sua família; embora estejam sob uma forte ótica do estereótipo de latino americanos estridentes, falantes, todos conseguem traduzi-lo de forma agradável, aliviando um contexto macro de destruição, preconceito e fascismo.

Caso seja esperado um filme de super-herói cheio de malabarismos unidos a planos mirabolantes para propósitos ainda maiores, a decepção baterá na porta. Contudo, caso a expectativa gire em torno de um entretenimento suave com pitadas de aventura e humor, ao passo que a aparição marcante de uma brasileira em Hollywood vira realidade e algumas boas sequências de luta, “Besouro Azul” não será à toa.

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