O Dia Nacional do Livro, comemorado em 29 de outubro, celebra a importância da leitura para a formação do pensamento crítico e interpretação da realidade. A data escolhida homenageia a fundação da Biblioteca Nacional do Brasil, em 1810, após a chegada da família real portuguesa no Rio de Janeiro. E por se tratar de uma data brasileira, nada melhor do que ressaltar um gênero literário que adquiriu características únicas no Brasil: a crônica.
Situado entre o jornalismo e a literatura, o gênero crônica foi disseminado nos jornais brasileiros a partir da segunda metade do século XIX, por meio dos folhetins. Com o apoio do humor e das figuras de linguagem, os autores transformavam situações pacatas e cotidianas em textos narrativos, sempre atrelados ao momento em que foram escritos. Daí o nome “crônica”, originado do grego Khrónos, que significa “tempo”.
Desse modo, ler uma crônica é imergir no contexto histórico, político e social de uma época. Tanto que muitas dessas obras podem ser usadas como ferramentas de estudo de sociedades passadas, como é o caso de Os Bruzundangas, de Lima Barreto (Editora Ática). No livro de 1922, o autor constrói um país fictício, a República dos Estados Unidos de Bruzundangas, uma paródia do contexto social daquele período. Com linguagem irônica, Barreto traça críticas contundentes à sociedade brasileira do século XX, denunciando seus preconceitos e sua política antiquada.
Por estar vinculada ao tempo histórico em que é escrita, a crônica costuma trazer temas variados, o que pode tornar sua leitura mais leve e fluida para o público jovem, mas não por isso menos crítica. As coletâneas, por exemplo, são uma opção interessante para a introdução do leitor adolescente no gênero. Constituindo a famosa coleção Para Gostar De Ler (Editora Ática), o primeiro volume, Crônicas, reúne textos clássicos de diversos autores, desde Carlos Drummond de Andrade até Rubem Braga. Outra coletânea com grandes escritores da nossa literatura é Histórias de Humor (Editora Scipione), cujos textos apresentam um panorama politizado da sociedade brasileira em diversas épocas, levando o leitor à reflexão sobre temas sociais, como a hipocrisia e a intolerância.
Além de autores homens, é importante que os jovens sejam apresentados às obras de cronistas mulheres que fizeram história. Em Cenas Brasileiras (Editora Ática), a renomada autora Rachel de Queiroz transcreve em seus parágrafos a pluralidade brasileira. As crônicas escritas entre as décadas de 1940 e 1960 representam o cotidiano em realidades e épocas, tecendo histórias tocantes que abordam diferentes temas, do amor à desigualdade social.
Por fim, pensando em obras contemporâneas, uma boa pedida é A Cara da Rua e Outras Crônicas, de Marcelo Xavier, que pode gerar ainda mais identificação com os jovens leitores, por ter sido publicado recentemente. Neste livro, o autor descreve a diversidade e a vitalidade das ruas, explorando pontos de vista inusitados, como o dos insetos, das ervas daninhas e dos objetos.