O símbolo da caveira do Justiceiro, criado em 1973 por Gerry Conway, Ross Andru, Frank Giacoia e Dave Hunt, tornou-se um dos personagens mais reconhecidos dos quadrinhos. Frank Castle, o personagem por trás do símbolo, é um ex-soldado que, após ver sua família ser assassinada por criminosos, decide usar a violência para fazer justiça.
A caveira estampada em seu peito, que inicialmente simbolizava sua luta contra o crime, acabou ganhando uma nova interpretação ao longo das décadas, sendo adotada por diversos grupos fora do contexto dos quadrinhos, especialmente forças policiais e militares, gerando uma série de polêmicas.
Apropriação do símbolo por forças de segurança
Desde a década de 2000, o símbolo da caveira tem sido amplamente utilizado, principalmente por membros das forças militares e policiais. O uso do logo foi inicialmente mais comum entre os militares, sendo adotado durante a Guerra do Iraque em 2003, quando o personagem Frank Castle, com sua luta brutal contra o crime, passou a ser visto por alguns como uma inspiração. O símbolo foi visto em viaturas de polícia nos EUA, especialmente após o retorno de veteranos que haviam se familiarizado com o personagem. Esse uso, no entanto, começou a gerar controvérsias, pois o personagem representa um anti-herói que age fora dos limites da lei.
Em 2017, departamentos de polícia, como o de Lexington, Kentucky, adotaram o logo do Justiceiro, muitas vezes misturado com a bandeira do “Blue Lives Matter“, um movimento que surgiu em resposta ao “Black Lives Matter” e visa proteger os policiais. No entanto, a adoção do símbolo foi vista com desconfiança pela população e, após protestos, as autoridades foram forçadas a retirar os decalques.
Reação do criador do personagem
Gerry Conway, criador do Justiceiro, expressou publicamente seu desagrado com a apropriação do seu personagem. Para ele, o Justiceiro é uma crítica ao sistema de justiça falido e a ideia de usá-lo como símbolo de forças policiais é contraditória. Em suas palavras, “qualquer policial que use o logo do Justiceiro está se identificando com um fora da lei“, comparando essa prática à exibição da bandeira confederada por autoridades públicas.
Conway enfatizou que o personagem nunca foi concebido como um modelo a ser seguido, mas como uma crítica à incapacidade das instituições de justiça de lidar com o crime de maneira adequada.
Anti-herói se opõe ao uso do símbolo
Em um episódio recente de Punisher #13 (2019), a Marvel abordou diretamente essa questão. No enredo, Frank Castle encontra policiais que adotaram seu logo como um símbolo de força. De maneira enfática, Castle retira o decalque de uma viatura e faz questão de esclarecer que ele, um criminoso, não representa um modelo para a polícia. Ele sugere que, se os policiais precisam de um ícone, deveriam olhar para o Capitão América, um verdadeiro defensor da lei.
Mudanças no logo e a polêmica crescente
Em resposta à polêmica, a Marvel fez uma mudança no logo do Justiceiro. Em 2021, o tradicional símbolo da caveira foi substituído, um reflexo da pressão para distanciar o personagem de sua associação com grupos que glorificam a violência. O novo design foi introduzido quando Frank Castle se aliou à organização criminosa O Tentáculo, abandonando a caveira e adotando um visual diferente.
A mudança no logo não foi apenas uma decisão de design, mas também uma tentativa da Marvel de afastar o personagem de associações com grupos extremistas e de violência. O uso do logo do Justiceiro por movimentos de extrema-direita, como aqueles que participaram do ataque ao Capitólio dos EUA em 2021, levou muitos a questionar a responsabilidade da Marvel sobre a apropriação do símbolo.
A resposta da comunidade e o futuro do personagem
Além de Conway, outros escritores e fãs criticaram a forma como o símbolo foi apropriado por forças policiais e militares. Garth Ennis, outro renomado escritor de Punisher, também se mostrou desapontado com o uso do logo, afirmando que aqueles que o adotam não compreendem o verdadeiro significado do personagem, que é essencialmente uma crítica ao sistema de justiça.
Conway, preocupado com a apropriação do símbolo, lançou a iniciativa Skulls for Justice, que buscou redefinir o logo do Justiceiro, combinando-o com a iconografia do movimento Black Lives Matter. A campanha visava reverter o símbolo de um ícone de violência para um símbolo de luta por justiça social.
