Vingadores do Novo Mundo: HQ traz Pantera Negra em sua melhor versão

Carlos Bazela

Desde que assumiu os roteiros do Pantera Negra, no arco Uma Nação Sob Nossos Pés, publicado por aqui em 3 volumes pela Panini, o escritor e jornalista Ta-Nehisi Coates vem imprimindo seu estilo ao herói. Com a arte de Brian Stelfreeze, a história centrada em Wakanda trouxe questões políticas – assunto que o autor domina – como seu argumento principal e mostrou que até a nação mais avançada do universo Marvel tem problemas. E eles só aumentam no arco seguinte.

Em Vingadores do Novo Mundo, publicado no Brasil em duas edições, Coates vai fundo na mitologia do país e mexe com questões de fé. Assim, o grande desafio diante de T’Challa – ainda que a HQ tenha o nome dos Vingadores, trata-se de uma história só dele – é entender se os orixás realmente abandonaram seu povo e o que acontece quando suas crenças são colocadas em xeque.

Capa de Pantera Negra: Vingadores do Novo Mundo
Em dois livros, o quadrinho da Marvel traz uma história madura e atual. (Foto: Panini)

O momento não poderia ser pior. Fora ameaças internas, o país cura suas feridas de incursões causadas por uma Terra paralela, além de ataques de Thanos e de Namor. Agora, novos portais surgem e deles estranhas criaturas, que parecem saídas diretamente de escrituras antigas, parecem um motivo bom o suficiente para fazer muitos direcionarem sua fé a outra divindade. Só que ela pode trazer ainda mais destruição.

Não bastasse esses problemas, o Garra Sônica, maior inimigo do Pantera Negra, está de volta e parece mais poderoso do que nunca. Estará tudo isso interligado? Enquanto investiga, T’Challa recebe apoio de sua amada Ororo, a Tempestade dos X-Men, em uma nova tentativa para fazer o relacionamento conturbado dos dois dar certo.

Racismo e cultura africana

Com uma trama que gira em torno de divindades locais, Vingadores do Novo Mundo é um manifesto à cultura africana. Ao aliar xamãs e alta tecnologia como imprescindíveis para a existência de Wakanda, os autores descrevem um conflito em um lugar fictício, mas que poderia muito bem existir, não fossem as décadas de exploração do continente e seus habitantes.

Ainda que não seja focada no racismo, a HQ deixa claro que o assunto é importante demais para o universo do personagem para ser deixado de lado, como o filme mostrou. Mesmo sem tirar o foco da narrativa principal, o tema é abordado de forma direta. Um exemplo é o ataque à boate dos Fenris, casal de gêmeos supremacistas brancos, onde o Pantera e seus agentes precisam enfrentar dissidentes da Gangue da Demolição em meio a insultos raciais.

T’Challa luta em Pantera Negra: Vingadores do Novo Mundo
Pantera Negra encara ameaças que não são tão novas assim. (Foto: Panini)

Aliás, em um de seus diálogos mais inspirados, o Pantera convence Elliot Franklin, o Maça, a querer mais de sua vida do que ser conhecido como ferramenta no mundo do crime ou o apelido de “Bruce Banner negro”, que recebeu quando era cientista. T’Challa o convida a não ser mais “aquilo que eles o chamam” e reconquistar seu nome e o valor que vem com ele. A mensagem também está nos desenhos de Chris Sprouse, que integra o time de artistas, ao lado de Leonard Kirk e Wilfredo Torres, ao mostrar correntes de elos enormes quando os personagens aparecem presos de alguma forma, em alusão clara à escravidão.

Dentro desse contexto de caos para Wakanda, Vingadores do Novo Mundo ainda traz um Pantera Negra mais maduro e, embora continue consciente de seus deveres como rei e protetor, está menos arrogante. Um homem disposto a rever tradições em benefício de seu povo, mas que está aprendendo como ser apenas o homem desejado por Ororo. Um que não a obrigue a títulos e, definitivamente, não tenha mais a ideia de lhe colocar uma coroa de rainha.

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