O Escândalo explora história real de assédio em TV americana

Amanda Almeida

Inspirado em fatos reais, O Escândalo (Bombshell, EUA, 2019) explora a queda do ex-CEO da FOX News, Roger Alies, denunciado abuso e assédio sexual. O título conta a história entrelaçada de Megyn Kelly (Charlize Theron, de Mad Max: Estrada da Fúria), Gretchen Carlson (Nicole Kidman, de Big Little Lies) e Kayla Pospisil (Margot Robbie, de Era uma Vez em… Hollywood), jornalistas que são vitimadas pelo machismo – seja por meio de piadas grotescas, deboches e ofensas ou por comportamentos de assédio. A trama tem início quando Gretchen denuncia de assédio sexual contra Roger em uma tentativa de levar outras mulheres a fazerem o mesmo.

Em 1h49 de duração, a produção é dirigida por Jay Roach (Trumbo – Lista Negra) e roteirizada por Charles Randolph (A Grande Aposta),  e se desenvolve sobre tom tom mais leve, apesar da seriedade do assunto tratado, usando de cortes entre cenas e atuações impactantes do elenco para deixar subentendido todo o constrangimento e incômodo pelos atos monstruosos do vilão interpretado por John Lithgow (The Crown). Assim, o foco é colocado sobre a atrocidade psicológica pela qual essas mulheres sofrem para trabalhar e construir a carreira de seus sonhos. Nesse quesito, a direção e roteiro imprimem o desconforto causado pelo assédio e nos insere nas situações como meros observadores passivos. É uma experiência angustiante.

Repare como as caracterizações ressaltam as semelhanças entre as vítimas de Roger Alies.

Como já citado, ter Charlize Theron, Nicole Kidman e Margot Robbie como carro-chefe de um vasto elenco, repleto de participações especiais, é ter também um espetáculo de performances. Theron está deliciosamente fantástica em seu papel e não é à toa que está indicada ao Oscar de Melhor Atriz, mas Robbie rouba a cena, especialmente por sua personagem explicitar o assédio, o que comove com sua atuação doce, emocional e verdadeira – obtendo indicação ao prêmio máximo do cinema como Melhor Atriz Coadjuvante. Kidman, no entanto, acaba sendo ofuscada pelas demais e não faz mais do que o convencional, sendo o estopim para o enredo se desenrolar.

Outro ponto importante é o quanto as atrizes estão bem caracterizadas – e até mesmo muito parecidas! Tanto a direção de arte quanto os figurinistas fizeram questão de demonstrar o padrão exigido para as mulheres que desejam trabalhar na empresa de comunicação: loiras, magras e altas (e impecáveis).

Por fim, O Escândalo não é sobre assédio sexual, e, sim, um longa que retrata claramente como mulheres ainda são tratadas nos ambientes profissionais, um retrato doloroso de como as competências femininas são menos valorizadas do que seus corpos. É sobre vergonha, culpa, sobre o medo de denunciar, ao mesmo tempo em que o título destaca a coragem de falar, apesar de toda descrença da sociedade. Então, sim, esse filme é muito mais que necessário.

O Escândalo estreia em 16 de janeiro nos cinemas brasileiros.

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